sábado, 3 de março de 2007

A Riqueza Verdadeira


A RIQUEZA VERDADEIRA

A honra, a exaltação, de todo ser que existe, depende de causas e circunstâncias.
A excelência, a beleza, a perfeição da terra está em seu verdor e sua fertilidade, graças às nuvens primaveris. Crescem as plantas, as flores e ervas fragrantes; as árvores frutíferas florescem e dão frutos novos e frescos. Os jardins e os prados tornam-se belos; vestem-se de verde montanhas e planícies; campos, aldeias e cidades são embelezadas. Eis a prosperidade do mundo mineral.
A culminância da exaltação, a perfeição do mundo vegetal, pode-se resumir numa árvore que cresce à margem de uma corrente de água doce, bafejada por brisas suaves, aquecida pelo ardor do sol, cultivada por um agricultor, desenvolvendo-se assim gradativamente, e produzindo frutos. Sua verdadeira prosperidade, entretanto, está em sua contribuição para o progresso do mundo animal, e até para o humano, substituindo o que foi esgotado nos corpos dos animais e dos homens.
A exaltação do mundo animal consiste em possuir membros, órgãos e sentidos perfeitos, e em satisfazer todas as necessidades. Nisso consiste sua glória suprema, sua honra, sua exaltação. Assim, a maior felicidade para um animal consiste na posse de um prado verde e fértil, uma corrente de água pura, uma floresta verdejante, encantadora. Tendo isso, terá toda a prosperidade concebível para o animal. Se um pássaro, por exemplo, construir seu ninho numa floresta verdejante e viçosa , num belo lugar, sobre um ramo muito alto, numa árvore forte, e se ele encontrar água e grãos em abundância, terá alcançado perfeita prosperidade.
A verdadeira prosperidade do animal consiste, entretanto, na transferência do mundo animal para o humano, tal como sucede com os seres microscópicos da água e do ar que entram no organismo humano e são assimilados, substituindo o que foi gasto. Nisso está a grande honra, a grande prosperidade para o mundo animal; não se pode imaginar maior.
É claro, pois, que essa riqueza material, esse conforto e essa abundância, constituem para o mineral, o vegetal e o animal a prosperidade completa. E não há no mundo material, riqueza, conforto ou bem-estar comparável a essa opulência do pássaro; toda a vasta extensão das planícies e montanhas é sua morada; todos os grãos, todas as colheitas, são seu alimento e sua propriedade, todas as terras – aldeias, prados, pastagens, florestas e selvas – são possessões suas. Ora, qual é mais rico, esse pássaro ou o homem mais próspero? Não importa quantos grãos o pássaro tome ou dê, não se nota diminuição nos seus bens.
Assim vemos claramente que a honra e a exaltação do homem devem consistir em algo mais que bens materiais. Os confortos materiais são apenas ramos, mas a raiz da exaltação do homem são as boas qualidades e virtudes que adornam sua realidade: são os atributos divinos, as graças celestiais, as emoções sublimes, o amor e o conhecimento de Deus; são a sabedoria universal, a percepção intelectual, as descobertas científicas, a justiça, a eqüidade, a veracidade, a benevolência, a coragem natural, a fortaleza inata. Consistem também em respeitar os direitos, e em cumprir promessas e convênios, em agir com retidão em todas as circunstâncias, servir à causa da verdade sob todas as condições, sacrificar a própria vida pelo bem coletivo, mostrar bondade e estima para com todas as nações, seguir os ensinamentos de Deus, servir ao Reino Divino, orientar o povo, e educar as nações e raças. Eis a prosperidade do mundo humano! Eis a exaltação do homem na terra! É a vida eterna, é a honra celestial!
Tais virtudes só se manifestam no homem através do poder de Deus e dos ensinamentos divinos, pois para sua manifestação um poder sobrenatural é necessário. É possível que apareçam no mundo da natureza alguns traços dessas perfeições, mas não são sólidos ou duradouros; são como os raios do sol projetados na parede.
Já que Deus, o Compassivo, lhe colocou sobre a cabeça uma coroa tão maravilhosa, o homem deve esforçar-se para que as jóias cintilantes desta coroa se tornem visíveis no mundo.

('Abdu'l-Bahá, "Respostas a Algumas Perguntas")

Sem comentários: